Gêneses Dois

Pó de um chão ardente
que penava sob o sol quente
Daquela longa noite

O vento sorrateiro
fazia poeira no teu meio
no caminhante dava açoite

-O vento está danado!
Diziam senhores preocupados
Que ora andando, ora parados
por cima daquele areiado
que esquentava sob seus calçados
a vida assim ganhavam.

Vendo os ares agitados
Mandaram um dos seus pra um lugar alto
e poder ver dali se tudo estava calmo
Logo ele voltou desesperado:

-Está vindo para este lado!

Então a viram despontar no horizonte...

um dos chefes pra correr havia gritado...
mas não havia como e nem pra onde.

Um dos digirentes exclamou frustado:

-Vamos nos dar mal!

Então vinha o vendaval 
a sacudir a dunas do deserto
Imensa tempestade de areia ia formando
Os líderes a vendo violenta chegando
já sabiam que o próprio final era certo


A cidade fantasma acabou soterrada
As aves cantaram naquela alvorada
A vida, ainda sonolenta, despertava
Onde antes só havia alma penada

E o que dizer de cada trabalhador?
Enquanto somente grãos de areia
se achavam tão pequeninos
Mas se unidos, que bagaceira!
Quem se porá em seu caminho?

Cada revolucionário é um Criador
É a partícula encrenqueira
Que no morto universo primordial
Busca irradiar as companheiras...
Para a grande explosão inicial!

Agora onde tudo era ressecado
e só havia areia escaldante
Se vêem nascer riachos
e se multiplicar vida abundante
Aquela água de nova vida
ao pó da terra deu consistente liga
na beira dos veios d'água
vê-se o barro a movimentar inquieto
pois que tendo agora alma
esse barro tomou forma de bonecos
Que os ventos da liberdade sopraram os narizes
Recebendo fôlego, se levantaram
Aqueles ares novos respiraram
Surgiram então seres humanos felizes
Que entoaram de amor sincero uma canção
De novos sentimentos havia embriaguez 
Em cada obra prima de uma criação...
que a si mesmo se fez!


Benditos os que se revoltaram
Pois a revolta a vida fez nascer
Esse mundo livre imaginaram...
que para a realização humana conduz
Ao se insurgirem contra o poder
Na verdade eles gritaram:
-Haja luz!

A raça humana agora caminha livre
por um paraíso que ela própria construiu
Aí verdadeiramente se vive
E a liberdade se instituiu
No jardim não há frutos proibidos
e tem um que é o preferido:
o da árvore da ciência e do conhecimento
que é ali considerado um excelente alimento.
Isso por ter um humano e real fundamento,
coisa que era impossível, na antiga era do tormento.

Com tantas novidades acabo disperso
Por entre as maravilhas daquele mundo liberto
Para meu azar do sonho então eu desperto
na podridão da realidade me vejo submerso

E ali só...

me vejo impotente...
Mas tenho um pró,
Sou persistente.

Um ponto agindo controverso
no antigo apático universo

Um grão de areia embalado pelo vento
Que no deserto morto, atreve movimento

Em me associar,
aos que querem transformar,
estou propenso.
Se esse aglutinar
perigo representar...

Estupendo!

Estarei por aí a exclamar:

- Povo! Te reduzem a pó,
te achas digno de dó?
Basta unir-te aos teus,
e terás força infinita sendo deus!

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